Tabaco x Saúde
Jovens e mulheres na mira da indústria do tabaco
O tabaco é a segunda droga mais consumida entre os jovens, no mundo e no Brasil, e isso se deve às facilidades e estímulos para obtenção do produto, entre eles o baixo custo. A divulgação dessas idéias ao longo dos anos, e o desconhecimento dos graves prejuízos causados à saúde pelo tabaco, tornou o hábito de fumar um comportamento socialmente aceitável. A prova disso é que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos de idade. Seduzir os jovens faz parte de uma estratégia adotada por todas as companhias de tabaco visando substituir os que deixam de fumar ou morrem, por outros consumidores que serão aqueles regulares de amanhã.
No entanto, apesar de todas as estratégias da indústria tabageira e a falta de compromisso com a saúde, tem prevalecido o bom senso da população, e as pesquisas têm demonstrado isso de através de dados como:
- No Brasil este mesmo estudo foi realizado nos anos de 2002 e 2003 entre escolares de 12 capitais brasileiras e encontrou uma prevalência de experimentação variando de 36 a 58% no sexo masculino e de 31 a 55% no sexo feminino, entre as cidades.
- Atualmente, de acordo com o mesmo estudo brasileiro, a prevalência de escolares fumantes variou de 11 a 27% no sexo masculino e 9 a 24% no feminino.
Tabagismo feminino
Historicamente a mulher ingressou no tabagismo depois que o homem. Mas a partir do século XX houve um incremento na prevalência de mulheres fumantes. A nova inserção da mulher na sociedade nas últimas décadas tem trazido avanços no sentido de torná-la mais feliz com seu papel e conquistas, mas alguns custos são resultantes desse avanço. O uso de cigarros é um deles, e tem sido manipulado como símbolo de emancipação social da mulher.
“As mulheres estão adotando papéis mais dominantes na sociedade; elas têm aumentado o poder de consumo; elas vivem mais do que os homens. E de acordo com o que um recente relatório oficial mostrou, mulheres parecem ser menos influenciadas por campanhas contra o tabagismo do que os homens. Tudo isso faz das mulheres um alvo de primeira.Dessa forma, apesar das dúvidas anteriores, podemos deixar de considerar agora um ataque mais definido sobre esse importante segmento de mercado representado por fumantes do sexo feminino?” (Tobacco Report, 1982)
O trecho acima faz parte dos documentos de companhias de tabaco depositados em litígio nos EUA, que deixa claro o foco direcionado para a mulher, como promissora consumidora de seus produtos.
A Falsa Crença dos Cigarros “light”
A publicidade da indústria do tabaco, direcionada ao público feminino, estimulando o uso de cigarro “light”, “slim”, tem como objetivo estabelecer na mulher a crença de que esse tipo de cigarro é menos prejudicial à saúde. Isso é particularmente preocupante, na medida em que compromete a percepção do real risco ao qual está exposta, dando a falsa impressão que está diante de um produto que oferece menos danos à saúde.
Epidemiologia do tabagismo
De acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL- 2010), que traça perfil de hábitos que influenciam a saúde do brasileiro, no conjunto da população adulta das 27 cidades estudadas, a frequência de fumantes foi de 15,1%, sendo 17,9% no sexo masculino e 12,7% no sexo feminino.
O estudo mostrou que na mulher a frequência de fumantes tendeu a aumentar com a idade até os 54 anos (de 12,4% na faixa etária 18-24 anos para 16,4% na faixa etária 45 a 54 anos). Há, no entanto, um declínio nas faixas etárias subsequentes, chegando a 6,5% entre aquelas com 65 ou mais anos de idade.
O número de ex-fumantes no país é maior entre os homens (26,0%) do que entre as mulheres(18,6%). Entre mulheres a frequência das que declararam haver deixado de fumar aumenta intensamente com a idade: 11,2% de ex-fumantes na faixa etária 18-24 anos e quase 30% nas faixas etárias a partir dos 45 anos de idade.
A frequência de ex-fumantes tendeu a ser maior entre mulheres com até oito anos de escolaridade.
O tabagismo feminino traz uma nova preocupação para a saúde pública. Os dados epidemiológicos do tabagismo feminino sob a ótica da leitura sociológica identificam três tendências – a pauperização, a juvenilização e a feminização .
A tendência de crescimento do tabagismo feminino ao longo das últimas décadas aponta para um quadro extremamente complexo, em que problemas emergentes se articulam aos anteriores e onde questões de saúde reprodutiva se associam às não-reprodutivas. O uso do tabaco potencializa os riscos, por exemplo, das associações entre doenças cardiocerebrovasculares e a contracepção hormonal e, nas patologias tradicionais, as relacionadas à gravidez e ao parto. As tendências epidemiológicas do tabagismo apontam para um problema que, dentro de poucos anos, será majoritariamente feminino.
Impacto do tabagismo na saúde da mulher
As principais causas de morte na população feminina hoje são, em primeiro lugar, as cardiovasculares (infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico); em segundo, as neoplasias – mama, pulmão e colo de útero; e, em terceiro, as doenças respiratórias. É possível perceber que as três causas podem estar relacionadas ao tabagismo, sendo que o câncer responsável pela maioria das mortes femininas (mama) já foi ultrapassado em incidência pelo de pulmão entre mulheres em diversos países desenvolvidos.
Dados sobre o impacto do tabagismo para a saúde da mulher fumante
1. O risco de infarto do miocárdio, embolia pulmonar e tromboflebite em mulheres jovens que usam anticoncepcionais orais e fumam chega a ser 10 vezes maior que o das que não fumam e usam este método de controle da natalidade.
2. Mulheres fumantes de dois ou mais maços de cigarros por dia têm 20 vezes mais chances de morrer de câncer de pulmão do que mulheres que não fumam. 3. As mulheres têm risco maior de ter câncer de pulmão com exposições menores do que os homens. Adenocarcinomas ocorrem mais em mulheres fumantes do que em homens, e estão associados ao modo diferenciado de fumar (inalação profunda) e ou produtos voltados para a mulher.
4. Calcula-se que o tabagismo seja responsável por 40% dos óbitos nas mulheres com menos de 65 anos e por 10% das mortes por doença coronariana nas mulheres com mais de 65 anos.
5. Mulheres fumantes que não usam métodos contraceptivos hormonais reduzem a taxa de fertilidade de 75% para 57%, devido ao efeito causado pelas taxas de concentração de nicotina no ovário.
6. As fumantes que fazem uso de contraceptivos orais apresentam risco para doenças do sistema circulatório, aumentando em 39% as chances de desenvolver doenças coronarianas e 22 % a de acidentes vasculares cerebrais.
7. Fumar durante a gravidez traz sérios riscos. Abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios de hemorragia (sangramento) ocorrem mais frequentemente quando a grávida é fumante. Tais problemas se devem, principalmente, aos efeitos do monóxido de carbono e da nicotina exercidos sobre o feto, após a absorção pelo organismo materno.
8. Entre as mulheres que convivem com fumantes, principalmente seus maridos, há um risco 30% maior de desenvolver câncer de pulmão em relação àquelas cujos maridos não fumam.
9. Uma vez abandonado o cigarro, o risco de doença cardíaca começa a decair. Após 1 ano, o risco reduz à metade, e após 10 anos atinge o mesmo nível daqueles que nunca fumaram.
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